Hailey, primeiro de tudo, agradeço fortemente pelos elogios!!! Image may be NSFW.
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Vamos falar sobre a Suécia? Eu tenho uma relação de amor com aquele país, estive lá duas vezes, acho um lugar mágico, mais ainda porque lá menino brinca com mini-máquina de lavar (ok, eu não entendo como qualquer tarefa doméstica seja divertida para qualquer dos gêneros rsrsrsrs) e menina brinca com metralhadora de plástico (ok, eu detesto apologia a armas rsrsrs). Eles têm toda uma outra concepção de gênero que foi construída a partir de 1960 por fortes políticas de educação – o que foi possível porque 100% do sistema educacional básico sueco é público.
Lá, o nível de desigualdade social é quase inexistente, e as pessoas mais “pobres” têm amplíssimo acesso a educação, saúde, moradia digna, cultura e políticas de fortalecimento de laços comunitários e familiares. Longe de relembrar estereótipos que temos com os países escandinavos, eu quero ressaltar o seguinte: eles não são padrão para estudos de sistema penitenciário no Brasil. Em Criminologia, autoras e autores concordam que um país (Suécia) com esse quadro social não é modelo a curto e médio prazo para o Brasil em termos de justiça penal (não em políticas de gênero, de moradia, de educação), pois a realidade é muito distinta.
Criminólogas e criminólogos costumam buscar comparações com países com realidade mais próxima do Brasil, inclusive com formação histórica mais parecida: se você ler o Sérgio Shecaira, por exemplo, ele compara muito com os EUA por sermos ambos países de imigrantes, como crescimento econômico e urbanização acelerados e sem muito planejamento das cidades, além de termos a mesma postura de hoje dos EUA de guerra às drogas – o que nos aproxima em termos históricos e sociais. E, claro, todas e todos em Criminologia têm um especial interesse em comparar o Brasil com os demais países latinoamericanos (somos muito mais parecidos do que pensamos) e, ocasionalmente, com outros países em desenvolvimento (China, África do Sul, Rússia, etc). Quando eu tinha aula com o Shecaira, eu sempre indagava muito os exemplos escandinavos (a Suécia e a Dinamarca) e ele sempre rebatia da dificuldade em comparar os dois. O que não significa que, se formos discutir políticas de empoderamento de gênero ou de educação livre de estereótipos, a Suécia não possa e não deva ser nosso exemplo.
É uma questão conjuntural então, Hailey. Por isso, é mais interessante olharmos para vizinhos como Argentina, Colômbia e Uruguai do que para países escandinavos. Veja, na Suécia não tem facção controlando penitenciária, mas na América Latina tem diversos casos – posso citar com mais propriedade a Guatemala, que conheço, com o problema das “maras” (facções).